Bola mole em baliza dura, tanto bate até que entra.
Porto - Setúbal, um clássico do futebol português que conta já com 68 partidas jogadas no Reino do Dragão. O Porto conta com 58 vitórias, 6 empates e 4 derrotas, com uma taxa de sucesso de 85%, o que diz bem da supremacia quase absoluta do maior do mundo sobre os sadinos. Como curiosidade, o resultado de 2-0 a favor do Porto, aconteceu nos últimos 9 encontros. Apesar do golo ter tardado, foi um jogo de sentido único, o Setúbal foi organizado mas nunca foi capaz de criar real perigo na baliza de Casillas. 21-6 em remates (7-0 na direcção da baliza), 11-4 em cantos e 73-27% na posse de bola são dados estatísticos que não deixam duvidas, foi uma vitória justa e inequívoca do Porto. Mais uma vez e como é hábito, um jogo pós-Champions foi o que se esperava dele, muito complicado.
Em relação ao jogo de Tel Aviv, o Porto fez uma única alteração com a entrada de Brahimi para o lugar do André, uma alteração que permitia à equipa voltar ao tradicional 4-3-3 com 2 extremos clássicos e bem abertos nas alas e também dar algum descanso ao omnipresente médio português. O Porto entrou bem no jogo, autoritário com a sua habitual troca de bola, desgastando um Setúbal que desde inicio se preocupou em manter a sua boa organização defensiva. O nosso Coolbakar foi quem abriu as hostilidades num lance em que choca com Raeder. Suk, o elemento mais perigoso dos sadinos e que esta época já foi capaz de crimes como este, respondeu numa boa tolada que passa perto do poste de Casillas. O Porto mantinha o controle do jogo mas o futebol emperrava um pouco nas alas, Lopetegui percebeu isso e manda trocar os extremos de flanco, colocando-os onde eles se sentem melhor, Brahimi na esquerda e Tello na direita. Uma mudança que teve efeitos imediatos porque logo de seguida, Brahimi pega na bola, vai para o meio e assiste Tello que remata ligeiramente por cima. Os Sadinos a partir dos 20/25 minutos começam a ficar tontos e a dar espaços e as oportunidades de golo começam a surgir quase sempre pelo mesmo personagem, Coolbakar. Tentou primeiro de cabeça num lance estudado de bola parada, tentou minutos depois num remate que sai à figura de Raeder depois de passe de Maxi e voltou a tentar num remate ao lado depois de jogada individual. Coolbakar era quem mais rematava e consequentemente, quem mais falhava. O intervalo aproximava-se rapidamente e a equipa do Porto exigia a si mesma, a marcação de pelo menos um golo nos primeiros 45 minutos. Foram 5/10 minutos onde se tentou de tudo, Tello tentou mas Raeder defendeu com os pés, Marcano tentou de cabeça depois de belo passe de Rúben Pirlo mas a bola saiu a cheirar o poste e Layún foi o último a tentar num grande remate de fora da área. Toda a gente tentava mas ninguém conseguia e o síndrome bracarense começou a pairar no Dragão. André entrava ao intervalo para o lugar do amarelado Rúben Pirlo e a equipa começa fortíssima a 2ª parte mas não conseguia chegar à área sadina com perigo. Lopetegui deixa passar os primeiros quinze minutos e mexe no jogo, mandando Osvaldo para a confusão. Temia-se a saída de Coolbakar, primeiro porque o camaronês estava pouco assertivo e depois porque todos sabemos que o nosso Mister é pouco dado a substituições de rotura, mas a opção foi Evandro, um jogador amarelado e que não tinha tido grande influência no ataque azul e branco. Quase toda a carne era metida no assador, a pressão aumentava sobre a equipa do Sado, o futebol do Porto era intenso e asfixiante mas a bola não entrava, o Dragão desesperava, Lopetegui suava, a equipa demonstrava alguns sinais de ansiedade e eu soltava uns valentes "foda-se", baixinhos para a minha filha não ouvir. Layún olha para o relógio, vê que faltam 20 minutos para o jogo acabar e pergunta a Coolbakar como é que se sente, o camaronês através de um olhar furtivo responde afirmativamente e o mexicano cruza de pé direito com conta, peso, medida e temperatura para a tolinha do 9 portista acariciá-la lá para dentro. Os 32000 mil portistas, mais os 27 milhões que estavam a ver na televisão perderam certamente 10 quilos nesta altura. A sociedade Miguel/Vincent S.A. voltou a funcionar em pleno. A partir daqui e como era expectável, o Porto mudou a sua forma de jogar, Brahimi saía logo de seguida, Imbula entrava e o 4-3-3 era novamente reposto com a ida de Coolbakar para a esquerda e o ritmo de jogo portista abrandava bastante. A excepção foi quando Imbula quis ser Imbula, pegou na bola, comeu metros com a redondinha controlada, endossa para Maxi fazer um cruzamento rasteiro para Layún festejar novamente pelo 2º jogo consecutivo. Até ao apito final, muita troca de bola, o Setúbal aceitou a derrota e toda a gente foi feliz para casa.
Layún - O MVP da partida. O mexicano caiu no goto da nação portista. É a vantagem de chegar à Invicta quase como um desconhecido, as expectativas são tão baixas que é muito fácil agradar aos adeptos e o Miguel tem feito tudo para agradar. É um jogador com um pulmão do tamanho do México, que defende bem mas ataca muito melhor. Voltou a cruzar com sucesso para Aboubakar marcar e teve sempre a capacidade para se chegar à área contrária com perigo, como é exemplo o seu belo golo. Perde fulgor sempre que joga com Brahimi à sua frente porque o argelino é um pouco avesso a parcerias com o lateral mas sempre que lhe é permitido faz mossa na equipa adversária.
Aboubakar - Vincent, Vincent, Vincent, haverá gajo mais fixe/cool/bacano que tu? Provavelmente não. Este gajo é daqueles que até quando falha 14 golos por partida, não consegue despoletar um sentimento negativo, um qualquer insulto aqui da minha pessoa. No passado domingo e tal como em Tel Aviv, falhou, falhou, falhou muito mas marcou e quase chorou. Não festejou, deixou que os colegas de equipa e toda a nação portista festejasse por ele um golo muito perseguido nas últimas semanas.
Tello - A época é feita de momentos e picos de forma, Lopetegui sabe disso melhor que ninguém e tem usado isso muito bem em prol da equipa em relação aos 4 extremos do Porto. Varela teve o seu momento no inicio da época, Corona teve uma entrada meteórica na equipa mas perdeu gás, Brahimi é um jogador inconstante também fruto de algumas lesões e neste momento Tello é o extremo titular. Fez um grande jogo contra o Maccabi e no passado domingo voltou a desequilibrar. Este ano, ou melhor, nestes ultimos jogos, mostrou uma faceta defensiva que andava adormecida no seu jogo.
Lopetegui - Ao contrário do que se tem dito e escrito, o Julen é um treinador inteligente e que está em constante aprendizagem. No jogo contra ao Braga em tudo semelhante a este, e por volta dos mesmos 60 minutos faz entrar Bueno para o lugar de Imbula, uma substituição de tracção à frente mas que como se veio a provar não provocaria a rotura necessária na defesa minhota. Contra o Setúbal e talvez com algum receio de cometer o mesmo erro, faz entrar Osvaldo para o lugar de Evandro, uma substituição ambiciosa, que veio a resultar em pleno, não porque Osvaldo marcou mas porque criou desequilíbrios e brechas na defesa sadina que nos permitiram chegar aos golos. Nota 10 para ti Julen.
Plano B - "Plano B & Lopetegui - Compreendo
o Mister em grande parte das suas decisões e aceito que queira impôr as
suas ideias e filosofia de jogo até ao final de cada partida no matter what
mas por vezes gostava de o ver a ele e à equipa despir o fato e a
gravata e vestir uma roupa velha e usada para fazer o trabalho. Gosto de
ver a equipa manter um estilo de jogo romântico mas gostava de quando
em vez de assistir a um concerto de rock, com barulho, confusão e moxe.
Isto tudo para dizer, que usar um plano B, um chuveirinho, algo
diferente de vez em quando, era bem vindo nem que o resultado do jogo
acabasse exactamente da mesma forma."
Escrevi isto no final do jogo contra Braga. Lopetegui, como é seu hábito, leu a minha sugestão e fez algo diferente na equipa. O chuveirinho não aconteceu, mas metemos em campo 2 elementos para tocar rock. Como se percebe nos 2 golos mas principalmente no primeiro, é fácil constatar que Brahimi atrai a atenção de 3 defesas, um deles o central Venâncio, Osvaldo arrasta o outro central Rúben Semedo com ele, o defesa esquerdo Nuno Pinto fica na marcação a Maxi que também aparece na área e Coolbakar aparece isolado e esquecido para cabecear com sucesso. Esta imagem traduz isto tudo:
Brahimi - Vinha de lesão muscular e a verdade é que nunca conseguiu criar uma jogada que desmembrasse a defesa sadina. Foi em muitos momentos aquele Brahimi que complica mais do que contribui para o futebol fluido da equipa. Continua a ter aversão a trocas de bola com Layún, algo que devia rever e para isso aconselho o visionamento de vídeos do Varela de à uns anos atrás.
Eficácia - ... ou falta dela. Não nos podemos dar ao luxo de fazer mais de 20 remates, ter mais de 70% de posse de bola e passar por tantos trabalhos para marcar golos. Correu mal contra o Braga, quase que corria mal com o Setúbal e poderá voltar a acontecer em jogos realmente decisivos na restante época. Pede-se eficácia urgentemente.
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