(Des)Liga da Champions.
No pós-afastamento da Liga dos Campeões, há muita coisa para falar, ouvir, ler e escrever. Desde a "invenção" de Lopetegui, ao inacreditável histórico de jogos em Inglaterra, passando pela recepção à equipa e treinador no aeroporto que me enchem de orgulho, raspando pelo desejo de boa parte da nação portista em ter Nuno Espírito Santo como novo treinador e acabando numa análise pragmática ao jogo de ontem, que não tendo sido um mimo, também não foi uma catástrofe como se poderia concluir através do que se vai lendo um pouco por toda a comunidade azul e branca. O Porto não ficou afastado da Champions com a derrota em Stamford Bridge, o Porto suicidou-se com o jogo medonho que fez em casa contra o Dinamo.
Comecemos pelo tão badalado 5-3-2 que tanta tinta e língua fez e faz correr, porque sinceramente não percebo onde é que o facto de retirar o ponta-de-lança da equipa, torna o treinador num assassino que foi capaz de cometer um crime hediondo. Sou fã do Sadbakar, nunca o escondi, mas a verdade é que o camaronês atravessa a pior fase desde que chegou ao Dragão, está numa crise de golos mas fundamental e principalmente, numa enorme crise de confiança. Não marca há mais de um mês, e no anterior jogo falhou o possível e impossível. Retirá-lo do onze titular para Londres, mesmo precisando de ganhar, não me parece algo nunca visto no mundo do futebol. Quantas vezes a Espanha jogou sem avançado ou com Fábregas a fazer esse papel? A Juventus há quantos anos joga em 5-3-2? São 2 equipas menos ofensivas por isso? Lopetegui foi criticado no jogo com o Dinamo porque desfez o habitual 4-3-3, versão Champions com André a fazer de falso extremo, mas ontem não tinha André, o único médio capaz de desempenhar bem essa função. Ora bem, não tendo os jogadores para o modelo pretendido, criou um modelo para os jogadores que tinha, reforçou a defesa não destapando o meio campo e deixou duas motas na frente capazes de confundir a defesa londrina. Honestamente, não consigo ver nesta forma de pensar algo tão despropositado e desfasado da realidade que seria o embate com o Chelsea. Há uma coisa que não tenho duvidas, Lopetegui conhece o Chelsea melhor do que qualquer um de nós e acreditou que esta seria a fórmula mágica para derrotar os ingleses na sua própria casa. Infelizmente, o Porto perdeu, não porque jogou em 5-3-2, mas porque o Chelsea é e foi melhor que nós, deu-nos a iniciativa de jogo e fodeu-nos no contra-ataque. Tão Mourinho, não é? A estatística dos jogos consegue ser muitas vezes curiosa e ontem foi um desses casos, senão vejamos, o Porto perde e bem por 2-0, mas tem mais remates que o Chelsea (11-16), tem mais cantos (5-6) e acaba o jogo com uns impressionantes 61% de posse de bola a jogar fora de casa. Mourinho não anda a dormir, fez entrar Ramires para o lugar de Fábregas e o panzer Diego Costa para o ataque, ao contrário do que fez nos 2 anteriores jogos do campeonato. Deixou o Porto jogar, deixou-o ter bola e foi fulminante a sair para o contra-ataque.
O historial de jogos em Inglaterra era assustadoramente negativo para o Porto antes da visita a Stamford Bridge, em 16 jogos disputados com equipas britânicas, tínhamos apenas 2 empates e 14 derrotas. Equipas como o Newcastle em 69 (1-0), o Wolverhampton em 1974 (3-1), o Tottenham em 1992 (3-1), o Arsenal em 2006 (2-0), 2008 (4-0) e 2010 (5-0) ou o City em 2011 (4-0), que não ganham absolutamente nada a nível europeu, foram capazes de nos vencer, e em muitos dos casos, golear. Mas Lopetegui, ouve uma cena, o Porto perdeu ontem por 2-0 com o Chelsea por tua única culpa e porque não foste capaz de manter o esquema habitual de 4-3-3. Todos os anteriores treinadores que visitaram Inglaterra, perderam ou em poucos casos empataram, porque os adversários foram melhores e não por tentarem inventar uma fórmula mágica, não é Jesualdo?
Quando soube do onze inicial, percebi que Lopetegui preparava algo de diferente para atacar o apuramento mas persistia a duvida se jogaríamos em 5-3-2 ou com Layún a jogar mais avançado, duvidas essas que ficaram dissipadas mal soou o apito inicial do turco Cüneyt Çakir. A verdade é que o Porto entrou em campo a jogar de forma muito personalizada, e não fosse a infelicidade dupla de Marcano no minuto 12 e o jogo poderia e deveria ter sido outro. O golo precoce do Chelsea não desmontou a organização do Porto que embora não criando perigo, conseguia manter o Chelsea afastado da sua área, e só através de lances de bola parada é que assustava o tranquilo Casillas. A excepção foi um remate de Óscar que volta a tabelar em Marcano, saindo a rasar o poste. O intervalo chega e Lopetegui decide não mudar nada, mantendo o onze que iniciou a partida. O Chelsea foi o 1º a criar perigo num lance em que o Wilian permite a defesa de Casillas e o Porto responde num remate de fora da área de Corona. O Porto volta a rematar por Brahimi que infelizmente mete a bola na bancada quando tentava metê-la na gaveta e à 2ª tentativa Wilian não perdoa, numa cópia da jogada do inicio da 2ª parte. Marcano ainda assusta Courtois numa cabeçada na sequência de um canto e Lopetegui decide mexer e montar o habitual 4-3-3 com a entrada do Sadbakar. Brahimi volta à esquerda, Corona cola-se na direita e de imediato faz mossa numa jogada que faz o que quer de Azpilicueta, cruza para Brahimi, que domina bem a bola, remata colocado mas infelizmente a bola desvia na cabeça de Ivanovic. O Chelsea dá definitivamente a posse de bola ao Porto, mas procura sempre o erro dos azuis e brancos e Óscar está perto do golo num lance que remata de calcanhar. Tello que tinha entrado para o lugar de Herrera obriga Courtois a uma boa defesa num remate que dá a ideia de não ir na direcção da baliza mas o Chelsea responde num remate ao poste de Hazard. Estávamos numa fase em que o 3-0 estava tão perto como o 2-1 porque o jogo estava louco e completamente aberto, mas até final foi novamente Brahimi a criar perigo num grande remate de primeira que passa a beijar o poste. O apito final chega, a derrota é justa, embora a equipa tenha feito tudo o que estava ao seu alcance para fazer a tal história que todos os portistas desejariam. Se formos intelectualmente honestos, não poderemos afirmar que o resultado seria outro caso Lopetegui não tivesse "inventado". Adeus Liga dos Campeões, olá Liga Europa.
Para finalizar, aquela recepção lastimável à equipa e treinador no aeroporto, com tentativas de agressão a Lopetegui que censuro, e com as quais não me identifico minimamente. A nação portista está descontente, tem razões para isso, mas comités de "boas-vindas" selvagens ao nosso treinador são actos que em nada dignificam o comum e apaixonado adepto portista. Ser portista deveria ser muito mais do que isto.
Brahimi - O MVP da partida. O argelino não marcou, não
assistiu mas fez um jogo enorme. Uma hora muito ingrata, onde foi médio
criativo, extremo, avançado mas sempre a procurar o espaço e a bola. Voltou à
sua posição natural com a entrada de Aboubakar e foi sempre dos seus pés que
nasceram as jogadas de maior perigo do Porto. A equipa lutou muito mas o
argelino foi sempre o mais inconformado. Um grande jogo na maior montra do
futebol mundial.
Corona -A par de Brahimi, fez a dupla de ataque no sistema
improvisado (ou talvez não) de Lopetegui. Trocou várias vezes de posição com o
argelino na tentativa de desmontar a defesa de betão do Chelsea mas foi a
extremo que foi mais incisivo.
Casillas - Não foi por ele que o Porto perdeu este jogo. Fez o
que podia no lance do primeiro golo e não tem a mínima hipótese no míssil de
Willian. Deu sempre segurança à equipa e foi sempre evitando o inevitável.
Adeus Champions - Depois de 10 pontos em 4 jogos e estarmos à distância de um empate nos 2 últimos jogos da fase de grupos, ser eliminado da Champions é como nos espetarem uma faca e rodar para ambos os lados. Vêm aí a Liga Europa, competição onde até fomos felizes em 2003 e 2011 mas ouvir o hino da maior prova europeia de clubes sem ver o nosso Porto, será de uma enorme azia.
Marcano - Decididamente não foi o melhor jogo do central espanhol. Duplamente mal no lance que inaugurou o marcador, não consegue fazer um corte aparentemente fácil e como se não bastasse, vê a bola bater-lhe depois da boa defesa de Casillas e encaminhar-se para dentro da baliza.
Lopetegui - Nada nem ninguém poderá garantir que ganharíamos o jogo caso o nosso treinador não tivesse alterado o nosso esquema habitual, mas mudanças "abruptas" em jogos chave tendem a dar mal resultado.
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